terça-feira, 27 de outubro de 2009

Empresas perdem mil milhões por ano devido a conflitos

Minam a produtividade, estragam o ambiente laboral e desmotivam trabalhadores. Os conflitos internos custam, pelo menos, mil milhões de euros por ano às empresas, o mesmo que foi investido na construção da Ponte Vasco da Gama.
Segundo as contas feitas pela consultora Convirgente, especializada na gestão e resolução de conflitos, em média os portugueses gastam 1,58 horas por semana a ouvir os desabafos dos colegas, a discutir ou a intervir como mediadores numa discussão. Ao final de um ano, perdem-se 270 milhões de horas de trabalho.
As conclusões do estudo, feito com base nas respostas de 933 pessoas inquiridas pela Netsonda no início deste mês, mostram ainda que 15 por cento dos conflitos nunca são resolvidos. E 27 por cento dos trabalhadores que são confrontados com problemas de forma frequente admitem estar "emocionalmente esgotados e insatisfeitos no trabalho", logo, "improdutivos".
François Bogacz, presidente executivo da empresa e ex-quadro da Microsoft, acredita que os resultados pecam por defeito, nomeadamente, porque no cálculo do número de horas gastas não foram consideradas as respostas dos 39 por cento de inquiridos que dedicam menos de uma hora por semana a discutir. Ou seja, as empresas gastarão mais do que mil milhões de euros por ano com os conflitos internos.
Portugal não está mal posicionado no retrato global: despende menos tempo com discussões do que o Reino Unido, a França ou a Alemanha, onde cada trabalhador dedica mais de três horas semanais a confrontar colegas ou chefes. Ainda assim, François Bogacz diz que esta é uma conclusão optimista. "Estaremos mais ao nível do Reino Unido e França", garante o responsável pela Convirgente, que hoje promove um debate sobre o tema na Universidade Católica.
Não há empresa que escape ao confronto entre trabalhadores. E tudo é fonte de problemas. Da incompatibilidade de personalidades (o factor mais apontado) ao choque de valores (motivo de conflito para 17 por cento dos inquiridos). Mais do que a média internacional, os trabalhadores entram em confronto porque há uma indefinição incorrecta de responsabilidades, porque há muito trabalho para escassos recursos humanos, devido ao stress ou por falta de honestidade e frontalidade. "No resto do mundo, a visão do conflito não é tão emocional", analisa François Bogacz.
Apesar de ser visto quase sempre como "negativo e doloroso", o confronto nas empresas tem poucas consequências negativas. Os portugueses preferem não insultar ou fazer ataques pessoais, apresentar a demissão ou faltar ao trabalho. "O abandono da empresa ou o despedimento, consequências que só podem resultar de um conflito aberto, são menos frequentes do que nos outros países", aponta o estudo. Há mais impactos na concretização de projectos - 17 por cento admitem não ter cumprido uma determinada tarefa devido a conflitos - e na mudança de pessoas entre departamentos ou direcções.O impacto emocional é considerável.
Os conflitos nas empresas provocam desmotivação, frustação, stresse nervosismo para a maior parte dos trabalhadores.
Em países como a Alemanha, Irlanda, Estados Unidos ou França, a discussão também é encarada como uma oportunidade de afirmação, ou mesmo algo que "apimenta"a vida profissional.As consequências também podem ser positivas. A maioria dos trabalhadores portugueses diz que, com a resolução do problema, há uma melhoria das relações de trabalho (29 por cento).
Ainda assim, 24 por cento referem que "nunca houve consequências positivas"."Em geral, o conflito não é enfrentado e há um risco elevado de repetição. As pessoas têm dificuldade em exprimir as emoções no trabalho, fruto de uma escola de gestão que foi prática durante muito tempo", diz Bogacz