quinta-feira, 23 de abril de 2009

“Educação: pela exigência, o mérito e o direito de escolha”

No passado dia 16 de Abril a ASPL esteve presente no Fórum “Educação: pela exigência, o mérito e o direito de escolha”, promovido pelo PSD, no Centro Cultural e de Congressos de Aveiro. Aqui ficam algumas considerações dos oradores que participaram neste fórum focado na educação.

Nuno Crato (Professor de Matemática, ISEG-UTL)
Considera que a avaliação deve ser feita com seriedade. Considera que os exames em Portugal não são fiáveis uma vez que apresentam grande variabilidade de ano para ano, não sendo, por isso, comparáveis. É preciso que os exames nos digam alguma coisa. Sobre esta questão acrescenta ainda que os exames não devem vir do ME. Quanto à avaliação dos professores refere que esta deve ser feita com base nos resultados dos alunos, no acréscimo que estes trazem. Defende ainda uma organização flexível do horário escolar, que deve, no seu entender ser gerido pelas escolas. Este professor, acrescentou ainda à sua intervenção a questão da formação de professores, referindo que “os professores deveriam ensinar didáctica e didáctica moderna!”. Termina a sua comunicação dizendo que se deveria acabar com o Ministério da Educação e ter, sim, um ministério pela educação. Conclui que se devem traçar metas e avaliar os resultados.

Natividade Correia (Professora do Ensino Secundário, Coimbra)
Refere a falta de preparação por parte dos professores e dos alunos no que diz respeito à escola inclusiva e na gestão de conflitos. A avaliação dos conhecimentos deve ser feita por competências. Actualmente, 30% da avaliação dos alunos diz respeito ao saber- ser e ao saber- fazer, pelo que coloca a questão da “nota como prémio ou como punição?”.Refere que o estudo é uma coisa séria e, como tal, deve ser encarado com a seriedade que merece, sem que com isso o aluno tire o devido prazer do estudo, afirmando que “estudar não é brincar”. Defende aulas de 60 minutos e afirma ainda que os alunos têm uma carga horária exagerada. Pergunta ainda quais os saberes que devem ser considerados fundamentais uma vez que os alunos não têm tempo para cimentar conhecimentos, para pensar, para reflectir sobre o que aprendem; é preciso tempo para o treino de competências. Esta professora sugere ainda reorganização de algumas áreas curriculares.

José Manuel Canavarro (Professor Universitário, Universidade de Coimbra)
Propõe alterações de nível pedagógico e organizacional que passamos a expor:

A – A Nível Pedagógico:

**Currículo nacional – é pouco flexível; deve ser dada maior importância no Ensino Básico; sugere a exclusão áreas acessórias e maior incidência em disciplinas como o Português, a História, a Matemática e as Ciências;
**Monitorização dos alunos: abordou a dicotomia aulas de recuperação versus explicações, explicando que a medida pedagógica das aulas de recuperação tem um efeito muito reduzido no sucesso dos alunos quando comparado com explicações; funciona melhor porque o estudo é individualizado ou em pequenos grupos. Afirma que a escola deveria repensar as suas modalidades de acompanhamento do estudo.
**Defende a Orientação Vocacional, projectos carreira desde o Ensino Básico
No seguimento do tema referente aos horários escolares e do tempo que os alunos passam na escola, faz referência ao texto de Joaquim Azevedo – E24
**Famílias: sugere que os pais também devem passar tempo na escola e que é urgente recuperar tempo da família à educação, que pode ser através de Centros de Capacitação Parental/ Envolvimento Parental.
**Educação de adultos – Centros Novas Oportunidades – sugere maior proximidade com empresas, como é o exemplo da Dinamarca; menos escolarizado e mais ligado à sociedade civil.

B- A Nível Organizacional:

**Indica existir confusão no modelo de prestação de contas
**Avaliação: a favor dos exames
**Inglês a partir do 1º Ciclo
**Avaliação centrada na escola (não pela IGA) e não nos professores. Quem dirige é quem avalia, pelo que seria mais prudente um grupo externo de avaliadores.
**Rede que junte público e privado numa só rede (rede una) pois isso ajudaria a uma melhor gestão dos recursos do estado
**Parcerias públicas versus privado
**Mais comunidade local – gestão dos munícipes, as autarquias podem ajudar, exemplo disso é o projecto “Porto Futuro”. Os sistemas devem ser menos centralizados. Sugere que as escolas públicas devem procurar às privadas como fazem a sua gestão e deixa mesmo no ar a questão “porque não entregar escolas difíceis ao privado?”

Exposto o ponto de vista de cada um dos oradores, devo dizer que foi bastante produtiva a participação neste encontro. Numa atmosfera levemente conduzida pelo professor Marcelo Rebelo de Sousa, abordaram-se temas como os manuais escolares; os currículos; os exames; a avaliação (dos alunos, professores e escolas); os horários escolares e a escola como repositório de alunos; o papel das autarquias e das empresas; a educação de adultos através dos centros novas oportunidades; a orientação vocacional; o envolvimento parental; a escola inclusiva; o processo Bolonha; o ensino superior, o uso dos computadores do ensino, enfim, uma variedade de temáticas que deixaram, sem dúvida, o sentimento de que “soube a pouco”.

Apesar de concordar com muitos aspectos que foram abordados, naturalmente tenho também as minhas divergências quanto a alguns assuntos. Independentemente disso, quero apenas, mais uma vez, salvaguardar que não se consegue fazer uma “Educação: pela exigência, o mérito e o direito de escolha”, quando se deixam de lado os psicólogos, os assistentes sociais e os animadores sócio-culturais, por exemplo. Enquanto os professores estiverem convictos de que conseguem “estar em toda a parte” e “tocar sete instrumentos duma vez”, como se costuma dizer, nunca conseguirão resolver todos os problemas.

Pode visionar excertos das comunicações em http://tr.youtube.com/watch?v=4dvUCy55DWM.

Para ter acesso ao texto E24 de Joaquim Azevedo, consulte
http://terrear.blogspot.com/2009/04/e24-grande-solucao-para-educacao.html