segunda-feira, 11 de maio de 2009

Escolaridade Obrigatória

"Parece que há uma proposta do governo no sentido de que a escolaridadde obrigatória passe para 12 anos, a muito breve prazo.
Em princípio, não tenho, nem poderia ter, nada a opor, embora não possa deixar de achar curiosa a iniciativa (como sabem, designamos por curiosidade uma extensa gama de fenómenos que não percebemos).
A questão da concordância de princípio é facilmente explicada: acredito que o acesso à escola, se não é panaceia universal de todos os males, é, pelo menos, uma possibilidade de diferenciação dos indivíduos, de aquisição de conhecimentos e de socialização. Por essa via, qualquer formato de escolaridade que possa dotar os jovens de mais recursos pessoais ou profissionais que os ajudem a enfrentar de forma mais plástica o mundo em que vivemos, parece uma boa ideia.
De caminho, retirar do desemprego quase 60 mil jovens entre os 16 e os 18 anos e dar emprego a mais uns milhares de professores e outro pessoal auxiliar, nos tempos que correm, parece uma opção esperta e um envestimento mais interessante que as habituais estradas, rotundas e aeroportos.
O considerando sobre a curiosidade vem de outros lados. Temos taxas de insucesso e abandono escolar preocupante a todos os níveis. Temos um ensino pré-escolar atabalhoado e insuficiente. Temos uma rede de infantários e creches públicas de bradar aos céus. Temos um ensino primário e secundário, em média, ainda pobre, ainda pejado de problemas e contratempos. Temos um ensino universitário acabadinho de ser encurtado, significativamente, com a consequência clara de ser levado a sério e cumprido à letra e, nesse sentido, estar praticamente vedado a estudantes-trabalhadores, ou ser atamancado para poder ser acessivel a todos os que, legitimamente, aspiram a concluí-lo.
Temos uma ferida aberta, e ainda longe de sarar, entre professores de todos os graus de ensino e as respectivas tutelas.
Temos, indiscutivelmente, um longo caminho a percorrer no processo educativo que já existe, para o tornar eficiente e útil para todos os intervenientes.
Ainda assim, antes de arrumarmos a casa, lançamo-nos a mais empreendimentos.
Curajoso, mas muito curioso!"
Artigo da revista CARAS de 9 de Maio, por Isabel Leal, professora de Psicologia.