segunda-feira, 19 de maio de 2008

A perspectiva cognitivista da motivação

A perspectiva cognitivista da motivação merece, na actualidade, de maior credibilidade científica comparativamente às concepções mecanicistas, sendo estas últimas consideradas por alguns autores (v.g. Ford, 1992; Weiner, 1992) como contributivas da crise da Psicologia da Motivação.
De facto, a perspectiva cognitivista apresenta-se como uma mais valia no estudo da motivação por possuir um enquadramento mais actual e que resulta da defesa de que o princípio básico do funcionamento dos motivos é a persistência da tensão ou da homeoquinesia, do reconhecimento de que todo o comportamento humano é motivado e personalizado e que o sujeito é agente activo e selectivo do seu comportamento – e não passivo e reactivo –, estruturando-o em função das metas a atingir e das oportunidades fornecidas pelas situações. Ou seja, o cognitivismo acresce à explicação do comportamento, uma dimensão temporal de futuro, não o definindo, somente, em função da experiência passada, como era defendido pelo behaviorismo e psicanalismo (Abreu, 1980; Abreu, 1982; Jesus, 1995).
Passa-se, então, da fórmula “S-R” e “S-O-R”, – contendo variáveis organísmicas intermediárias – para a fórmula “S-C-R” onde os processos cognitivos são tidos como mediadores do comportamento. Ou seja, as teorias cognitivistas assumem que as situações ou estímulos (S) não levam a reacções (comportamentais ou emocionais) (R) de um modo automático, directo ou mecanicista. Ao invés, baseiam-se no pressuposto de que as cognições (C) têm um papel mediador entre os estímulos e as reacções.
Segundo Lemos (1993), as teorias psicológicas de cariz cognitivista: especificam a forma como os indivíduos seleccionam, processam, armazenam, evocam e avaliam informação acerca de si próprios e do meio ambiente; concebem que o processamento cognitivo dos acontecimentos determina, em grande parte, a maneira como o sujeito se comporta e se sente; abandonam as concepções do comportamento como determinado, quer por características da situação quer, por características gerais e estáveis de personalidade, através de mecanismos automáticos.
Ou seja, “no contexto da valorização dos processos cognitivos na determinação do comportamento, o estudo da motivação foca-se nos processos cognitivos mediadores entre o indivíduo e a situação, processos estes que são sobretudo processos de avaliação, julgamentos” (Lemos, 1993, p. 15).
Por outro lado, as teorias cognitivistas negam a primazia dos conceitos de necessidade ou de “drive” como impulsores da acção, abarcando, deste modo, uma maior variabilidade de comportamentos humanos nomeadamente os que são direccionados para novos objectivos, independentes do funcionamento orgânico e nunca antes experienciados. A explicação da acção só é possível através da ponderação dos processos cognitivos, constituindo estes o meio pelo qual o sujeito adquire conhecimento, avalia o seu significado e valor e orienta a sua acção (Paixão, 1996).
Nesta perspectiva “valorizam-se os processos de pensamento intervenientes na sequência pensamento-acção, tais como as expectativas, as intenções, os objectivos, as percepções e as crenças acerca de si próprio e das situações” (Lemos, 1993, p. 16).
Assim, as abordagens cognitivistas da motivação valorizam os determinantes subjectivos do comportamento e acentuam o papel fundamental dos factores subjectivos na determinação do comportamento, isto é, centram o estudo da motivação no interior do indivíduo (opondo-se à perspectivação do indivíduo motivado como um reactor às situações em que se insere), reconhecendo o papel activo do sujeito na estruturação da sua acção.
Deste modo, “ao acentuar o papel dos processos cognitivos, a experiência passada e o contexto presente deixam de ser concebidos como determinantes inelutáveis ou automáticos do comportamento” (Lemos, 1993, p. 17). O papel da experiência passada e da aprendizagem no comportamento consiste em fornecer os meios através dos quais o sujeito procura atingir o objectivo.
De resto, neste tipo de abordagens, a previsão de cenários futuros é vista como um importante determinante da acção, isto é: quando pensa, o sujeito pode facilmente saltar dos efeitos para as causas, dos consequentes para os antecedentes, a sua capacidade de reversibilidade liberta os processos cognitivos das limitações físicas, temporais e especiais, o que lhe permite todas as tentativas e erros, a exploração, a combinação e construção activa (Lemos, 1993).
Retirado de Alves, V. (2003). Motivação para a profissão docente e Satisfação Profissional -
Um estudo com professores da Região Autónoma da Madeira
. FPCE UC.