terça-feira, 21 de abril de 2009

“Questões de Violência escolar: dimensões da problemática e caminhos de intervenção”


“Questões de Violência escolar: dimensões da problemática e caminhos de intervenção”
Seminário proferido pela Drª Aura Helena Ramos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Todos dizem que o rio é violento
Mas ninguém culpa as margens
Que o comprimem.
(Bretch)

Introdução
No dia 22 de Julho de 2008, assisti a um seminário organizado pelo Centro de Intervenção e Investigação Educativas, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, proferido pela Drª Aura Helena Ramos, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em que o assunto abordado foi “questões de violência escolar: dimensões da problemática e caminhos de intervenção”.

A violência escolar é uma problemática muito debatida actualmente e, pais e professores devem ter em atenção uma primeira premissa: quando falamos da escola não devemos usar a 3ª pessoa porque a escola somos “NÓS”. Um “nós” que actua em função da construção de uma identidade.
A sociedade coloca na escola as expectativas mais favoráveis, a formação de seres humanos que devem ser preparados para uma vida social activa e construtiva. Veiga (1999, p.9) refere que a escola deve assumir a sua responsabilidade na formação da consciência moral dos jovens, quer através do tipo de conteúdos que ensina, quer através da maneira como tais conteúdos são transmitidos.

E porque surge, então, a indisciplina e a violência nas nossas escolas? Primeiro devemos clarificar o significado destes dois conceitos. Por indisciplina entende-se a transgressão das normas escolares, prejudicando as condições de aprendizagem, o ambiente de ensino ou o relacionamento das pessoas na escola. A violência é definida como o “recurso à força para atingir o outro na sua integridade física e/ou psicológica” (Veiga, 1999, p. 13) A violência deve ser entendida, então, como acto intencional de destruição do próximo e indisciplina como acto de contestação à escola.

A necessidade de afirmação perante o próximo gera um conflito e o medo de o enfrentar que resulta, por vezes, de aspectos culturais, conduz ao desejo de destruição do outro. Será necessário um reforço positivo do conflito. Vejamos, “não quero guerra, não quero conflitos” existe aqui um reforço negativo do conflito, pelo contrário, “quero paz” opta-se pela vertente positiva, pela afirmação das relações interpessoais. A escola, enquanto organização escolar, gere o currículo pela exclusão/ negação de algo, de conhecimento, de cultura, reforçando muitas vezes esta situação de violência.

Existe violência gerada dentro da escola? A escola produz violência pelo modo como se organiza e não é apenas reflexo da violência social. A avaliação escolar, por exemplo, é usada, por vezes, como instrumento de coerção e o grande problema da avaliação é esse, o modo como se operacionaliza essa avaliação. Mas, há que distinguir três formas que a violência pode assumir:
*a violência contra a escola
*a violência na escola
*a violência da escola

Segundo a Drª Aura Ramos, o desejo de destruição do outro (a violência) surge através de expressões directas ou indirectas. A expressão directa dessa violência é a agressão física e verbal. Quanto a expressões indirectas teremos presentes a violência estrutural, advinda da estrutura sócio-económica, e a violência simbólica, como o preconceito, o racismo ou a descriminação de minorias.

Mas, atenção!, a violência gerada dentro da escola não parte apenas do aluno. Poderá partir também do professor que, intencionalmente, humilha o aluno/ a turma num acto que é constantemente repetido. Perante esta humilhação e destruição permanente do outro é necessária uma intervenção. A introdução de normas/ estratégias capazes de superar determinadas situações de agressividade/ violência. Sugere-se ao professor:
- a superação da visão de senso comum sobre os direitos humanos;
- a introdução da temática dos direitos humanos na formação inicial e contínua de professores (educadores) porque a lógica da prevenção é a lógica da educação para os direitos humanos. Deve trabalhar-se a consciência de cada um para que a convivência seja construtiva;
- o estimulo da produção de materiais de apoio que favoreçam a perspectiva da educação transversal;
- a construção de ambientes escolares que respeitem e promovam os direitos humanos;
- a individualização de cada aluno, por exemplo: um aluno que se apresente sujo e sem higiene, deverá ser-lhe dado um estímulo positivo em lugar de uma reprovação. Uma das formas de incentivar sem necessitar de actos repreensivos será a realização de oficinas sobre o corpo humano ou a realização de actividades fora da escola que integrem os pais/ a família porque muitas vezes a indisciplina advém da falta de educação, de maus hábitos adquiridos em casa.

Teremos, por isso, de assumir a escola como “NOSSA”, como sendo da comunidade que a integra, uma escola que deve ser apropriada pelo aluno como sua segunda casa fazendo um bom uso dela. Entre o professor e o aluno elaborar-se-á um “contrato pedagógico” e estabelecer-se-á, portanto, uma negociação de normas de comportamento dentro da sala de aula. Normas/ regras que deverão ser cumpridas pelo aluno, desde que este as conheça e saiba o que significam.

A violência escolar deve ser denunciada, sem medo, pois a impunidade é um factor adjuvante mas, a denuncia não basta. Se como professores só denunciarmos, diz a Drª Aura Ramos, então devemos mudar de profissão! Há uma grande necessidade, nos dias que correm, de se desenvolver a parte humana do professor. O conhecimento está largamente expandido com os meios de comunicação social e a internet. Há que criar laços afectivos para se proporcionar um compromisso entre o aluno e o professor.

Bibliografia Activa:
Veiga, Feliciano H. (1999). Indisciplina e Violência na Escola: Práticas Comunicacionais para Professores e Pais. Almedina;
Bibliografia Passiva:
Candau, Vera Maria et alii. (1999). Escola e Violência. Rio de Janeiro, DP e A;
Curto, Pedro Mota (1998). A escola e a Indisciplina. Porto Editora;
Artigo elaborado pela colega Sara Sousa, professora do 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico.